terça-feira, 13 de setembro de 2011

SEM SANSÃO À DALILA - TV ARTPONTO


"SEM SANSÃO À DALILA"

No dia 09/09/2011, estive com ninguém mais ou ninguém menos do que Dalila Penteado.
Olhem bem senhores, ou melhor, leiam bem, porque para olhar é necessário ir à exposição desta artista, mui linda. Eu falei para ela: você é toda amor!
Durante toda sua vida ela corta, recorta, cola, descola, desenha e dai para frente. Sua chance de fazer arte é a mesma que tem de viver: ou isso ao nada.
De jornalista ela já sabe tudo, tem até pós-graduação, foi para o Canadá, para expor em biblioteca e para estudar. Continuo afirmando que Dalila cola e recorta, desenha e também escreve poemas. Impressionante seu gênio criador. Ademais ela só sorri. Sabem? Ela me falou bastante sobre sua história, eu disse a ela que Dona Tarsila era assim também, gostava de falar sobre sua obra, mas nunca deixou sem prioridade sua simplicidade. Perguntei a ela se tinha tristeza, pois usa em seus trabalhos cores escuras ou lágrimas.


Enquanto eu almoçava, eu tinha ainda uma reportagem no Clube do Banespa, não teria tempo para a entrevista e em seguida ainda, ir do Embu até Santo Amaro a tempo de cobrir esse evento. A salada que o restaurante oferece aos convidados é muito boa, só que ainda tinha a companhia agradável de Dalila, assim meu almoço ficou bem mais temperado e especial.


Para conhecê-la entrei um pouco na intimidade de sua infância, sua mãe, Dona Vanice, meio que heroína e mais do que mãe, trabalhava a noite no resgate do SAMU, é enfermeira, isso é vida de mulher forte, elas tem que ver cada coisa do peru! Dalila ficava com sua vizinha Dona Mirian Simone, essa era para nossa artista, a vó. O senhor José Simone o vô Zé, ele ajudou a cuidar de mim, pois todo mundo trabalhava, engraçado eu ia sobrando (eu não sobrava), mas enquanto isso eu colava, recortava, desenhava, e por ai afora.


Agora, se quiserem ler o que Dalila me escreveu em um e mail, assim as informações ficam mais precisas. Tive que solicitar informações extras porque perdi o caderno onde anotei a entrevista, depois estava trabalhando neste texto, na escola onde trabalho e sem querer enviei estas letras a Dalila e ela me devolveu para ajudar:
Olá Líbano, boa noite, rs.

Por gentileza, além dos nomes já enviados, gostaria que acrescentasse: Regina, da Biblioteca Municipal Anne Frank e Nadime, da Biblioteca Prefeito Prestes Maia. Foram elas que aprovaram as minhas outras exposições no Brasil.
E nada, de perfeita sem perfeições, lembra-se, kk? Ousaria inclusive dizer:
O fato de eu não ter crescido sob os cuidados diários de meu pai Willian, não fez de mim uma pessoa que sobrava, kk. Minha vó Lourdes e minha mãe Vanice sempre foram muito guerreiras, trabalharam e continuam trabalhando muito até hoje e, embora não pudessem estar comigo período integral, até mesmo porque eu ia para escola, sempre fui muito bajulada. Sou filha única e até certa idade era a única neta menina, rs, logo, cresci regada de amor, talvez por isso eu seja ?toda amor?, conforme você disse, rsrs. As horas de trabalho das duas (mãe e vó) eram poucas se comparada com o carinho que sempre recebi. Até os vizinhos, vó Mirian e vô Zé que também cuidaram de mim na infância, amaram, amam e fazem parte da minha vida até hoje.
Quanto às possíveis interpretações que eu seja triste, rs, eu diria: os cerca de 20 poemas da exposição advém da adolescência à juventude (período em conhecia o amor, não pela família, pois eu já desfrutava, rs, mas pelos rapazes). Os poemas eram os meus desabafos. Todavia, também escrevi poesias sobre razões sociais e muito mais (compartilhadas inclusive na exposição). Logo, creio que seria generalizar demais ao concluir que eu sou ou era tão somente triste, rs. É certo que as poesias eu só fazia quando chateada, pois na hora da felicidade eu queria vivê-la e não deixá-la de lado para parar e escrever, rs.
Sobre os desenhos e o olhar registrado na maioria deles, posso revelar que é porque admiro o olhar. Para mim, ele é sinônimo de verdade, é transparência, expressar, felicidade, chorar... Assim sendo, muitos trabalhos trazem a combinação: olhar e lacrimar, uma vez que as lágrimas também advêm de uma risada bem dada, de uma bela e gostosa gargalhada!
Quanto às pinturas, elas fazem parte da minha história, dos meus passos no mundo da arte. O público me pediu tinta, mas se eu também não as desejasse, não teria ousado-as. Se os desenhos estão em cores quentes ou frias, no meu caso, afirmo em dizer: sempre pintei com o que tinha em mãos, se obtinha só amarela, soube me virar com ela, rs, e o mesmo ocorreu com as cores escuras. O importante foi produzir, a criatividade precisava reluzir.
Já os trabalhos de poesia visual feitos com revistas e afins, eu diria que a maioria delas veio da minha vó Lourdes. E, os acessórios utilizados nos livros de artista também foi ela, entre outras pessoas, que muito me ajudou, juntou, entregou...
Enfim, independente do temperamento, o que mais fiz foi produzir, sou criativa e me realizo no criar seja quanto jornalista, artista plástica, poeta ou compositora, rs. No geral, a inspiração vem do amor. E o mais interessante é que o público costuma ?vibrar? com a minha exposição, uma vez que ela é toda emoção, sentimento, coração... As pessoas sentem tudo isso e elogiam pelo fato de eu conseguir passar tudo isso também. Nesse caso, o suporte utilizado é o que menos importa. Comigo, elas se tornam artistas tanto quanto eu; interagem e enxergam em meus abstratos o que bem querem Logo, ouvir tais impressões é o mais me dá prazer, além de, é claro, fazer, kkkk.
Dona Vanice, meio que heroína e mais do que mãe?, na época trabalhava todos os dias, das 7 h às 19 h, ela tinha dois empregos, minha vó Lourdes trabalhava no período da manhã, também todos os dias e chegava por volta das 16 hs, por isso, após a escola matutina, eu ia para a casa da vó Mirian e do vô Zé. Assim foi até os meus sete anos de idade. A partir daí, mesmo minha mãe e vó trabalhando, eu chegava da escola e almoçava com o meu vô Wagner, para ele, nesta hora, eu também lia e começava a compartilhar minhas poesias. Vale lembrar que quando minha vó chegada do serviço, por volta das 16 h, era para ela que eu apresentava as dúvidas da escola e ela me ensinava, ela inclusive, ouvia além o decifrar de minhas criações poéticas, desenhos e afins. E quando não tinha lição, eu ficava brincando com os amigos e amigas, de boneca, de escolinha, de casinha, de jogos, de brincadeiras de rua, tipo pega-pega, esconde-esconde, rs. Já minha mãe, quando chegava, ela brincava comigo, levava-me para passear, conversava...


Eu guardei mais de trezentos trabalhos produzidos em anos de criação, sem saber, direito o que ia fazer deles. Eram colagens, recortagens, desenhagens e poetagens. Em um dia estava de visita a Biblioteca Alceu de Amoroso Lima, e tive a ideia de conversar com sua diretora sobre a possibilidade de realizarmos uma exposição nas dependências da entidade. Olhe Líbano, a resposta foi imediata, ela achou meu projeto excelente, uma exposição de poesia visual, aliás, era o que eu vinha fazendo, minha cultura de jornalista permitia que eu produzisse com desenvoltura, bom! Agora, ainda vem você para garantir isso, fico feliz.
Realmente as pessoas que frequentavam a biblioteca, vinham para ler e pesquisar, a exposição não tinha tanta visibilidade, mas era um ambiente familiar, e tudo fluiu muito bem. Em seguida a essa mostra veio também o convite para reproduzir tudo na Biblioteca Anne Frank, só que para lá levei uma série de trabalhos, também de poesia visual, com referências figurativas e que enaltecida a patrona. Foi um sucesso.


Eu viajei para o Canadá para estudar e tive a idéia de reeditar a mesma proposta e o mesmo projeto, na Biblioteca de Vancouver. Saiu até matéria sobre o evento na Student Travel Bureau, agencia de intercambio cultural e estudantil, que publica matérias sobre acontecimentos relacionados à educandos com ela associados.
O Paulo Dud, diretor Cultural do Centro Cultural Mestre Assis, foi quem convidou Dalila para esta exposição. Eu estive presente como apreciador, acompanhado, privilegiado pela companhia de artista, sem dúvida perfeita, ela me falou praticamente sobre todos os trabalhos expostos, ela foi suave, ela não se acha; a tendência era eu olhar mais para ela do que para os trabalhos. Adorei as colagens, os desenhos, as poesias. Foi ótimo!
Quando a comparei com Dona Tarsila de Amaral, com quem convivi bastante, no início dos anos 70 foi porque ela tinha toda a graça de uma artista verdadeira, era muito simples, ela cuidava de sua importância, falava muito de sua arte, mas seu charme e feminilidade, não deixavam percebermos que ela sabia disso. Ela Dona Tarsila, assim eu chamava, era importante, como a obra. A nossa importância era para ela mais do que a dela mesmo. Ela mostrava-nos que como admiradores de sua obra, tínhamos o mérito de tudo que ela propunha como grande artista plástica brasileira.
Dalila Penteado, já deixa claro que a interpretação do publico em relação aos seus trabalhos é primordial, todas as observações e opiniões dos expectadores são rigidamente anotadas por Dalila e usadas como ingredientes imprescindíveis nas suas composições. Vejam senhores leitores, como nossa entrevistada nos surpreende com essas declarações, em seus trabalhos, em suas criações, ela deixa claro, repito, assim como Dona Tarsila, afirma que a participação de seu público em sua obra é concreta e efetiva. Tudo produzido por ela é democrático como se fosse resultado coletivo.


Talvez, bem, acho que podemos afirmar que toda sua produção é genuinamente brasileira. É característica nossa, a afetividade, extroversão a atitude participativa, etc. Tudo aqui é sui generis. Bom! Só nós mesmos para pretendermos sermos artistas juntos de nossas próprias artistas.
Dalila Penteado democratiza sua arte, estética, intelectualmente, aplica materialidade ecologicamente correta e ainda mostra aos seus expectadores que sua presença nos trabalhos, é de valor inestimável, porem, também, deixa claro através de sua obra a lição que todos podem produzir artística e efetivamente.


Nas colagens, que incluem ainda seus próprios desenhos, os recortes são retirados de suas origens, com todo o rigor e com o paradoxo da naturalidade, a movimentação resultante da composição concluída deixa claro à percepção, principalmente do expectador que a obra de Dalila Penteado é aberta e democrática e que sua própria presença, enquanto atua confeccionando-as, limita-se apenas à função de fazer.
Gênio é gênio, genia também é genia! Gênio?
A mim restou apenas o privilégio de falar de Dalila com o coração. Espero que tenha conseguido.
Beijos a Dalila e a todos que a ajudaram em sua carreira.

Líbano Montesanti Calil Atallah


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